O Evangelho Segundo Johnny Cash

Posted: quinta-feira, 29 de julho de 2010 by A.balbino in Marcadores: , ,
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Depois de um belo tempo, volto a dar a cara e as palavras no R.Sessions. Este post comentará certas interpretações sobre canções de Johnny Ray Cash. E realmente espero que sua visão sobre esse gênio do Tennessee se expanda um pouco. Peço também que leve em consideração uma certa influência do post "Ao Dreher, com carinho" sobre este que lerá. Sendo assim, que comece o devaneio...


Como todo texto religioso, este passará uma certa visão de mundo. Uma visão do que enfrentaremos desde o momento em que fomos concebidos até o qual deixaremos de respirar. E a primeira hipérbole cashiana, Folsom Prision Blues, é um resumo de tudo isso que nos espera. Essa passagem diz que muitas vezes nos odiaremos. Diz que muitas vezes tomaremos decisões que nos farão vomitar. E que quando nos virmos no fundo do poço e olharmos para o lado...”Those people keep on movin". Ou seja, nossa dor e sofrimento serão reais, mas nada que afetará o andamento do mundo. Acima de tudo, somos nada.

Seguiremos, então, um cotidiano miserável, retratado no versículo "Sixteen Tons". Porém, quase que magicamente, encontraremos em alguma mulher tudo o que precisaremos. Elas serão nossa perdição. Serão a justificativa de todos nossos atos. Serão nossas noites de insônia. Nelas encontraremos aquilo que tanto em português, quanto em inglês, é escrito em 4 letras. Aquilo cujo doce sabor, nos fará cair feito crianças. Afinal quando mais “down, down, down” estivermos, mais isso queimará. Pois nesse Ring of Fire, the fire wants higher. Sempre.

A partir daí, se conseguirmos driblar o versículo Cocaine Blues, entraremos na melhor fase de nossa existência. Entraremos no versículo Where Did We Go Right? - No qual a vida estará de certa forma encaminhada, apesar de todo o desmoronamento em volta (In a world where everybody's fallin apart...You and I, stay together and we never even cry).

Chegaremos a um ponto crucial do evangelho. Tudo parecerá bem e estável...mas poderão se desmoronar. Com Cash,isso ocorreu com a morte de June. Buscaremos escapatórias, e Johnny não fez diferente...ele começou a regravar títulos do mainstream da época...Hurt, que pro Nine Inch Nail era sobre efeitos da cocaína, pra Cash era sobre June. One, que pro Bono Vox era sobre a desigualdade do mundo, pra Cash era sobre June. Personal Jesus, que pro Depeche Mode era sobre a necessidade de se ter alguém, pra Cash era sobre June.

Concluindo, Cash nos profetiza que a vida oscilará em uma espécie de senóide eterna entre o céu e o inferno. E quando nos perguntarem se um dia esqueceremos tal garota, ou se perguntarem se conseguiremos seguir em frente, ou se acharemos outra pessoa, se seremos sozinhos, se seremos felizes...Nunca haverá certeza para nada disso. I don’t like but I guess things happens that way, último versículo.


Provavelmente você já ouviu, leu ou pesquisou sobre Johnny Cash. Portanto, você já deveria saber que a mente cashiana ia muito além de músicas, letras e melodias...a mente de Cash formulava teorias e estabelecia modos de pensar. Se já sabia disso, meus parabéns! Se só pensou nisso agora, fico honrado! Mas se ainda não sacou, se mate...mas ouça alguma de Cash antes.

Top 10: Filmes que você deveria ter visto mas não viu só porque são em preto-e-branco

Posted: sábado, 17 de julho de 2010 by Albanietzsche in Marcadores: ,
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Isso mesmo. Quantas e quantas vezes, ao recomendar um filme para alguém, pude perceber todo o interesse da pessoa se esvaindo assim que eu cito o detalhe "O filme é meio antigo, em preto-e-branco ainda...", seguido do inevitável "Ahhh... é mesmo?" com a tradicional cara de decepção.

Bem, no intento em quebrar esse preconceito, devagarzinho pra não doer, fiz esse Top 10 só com o crème de la crème da Sétima Arte, pra, quem sabe, despertar o interesse da galerë que foi obrigada a crescer somente com a programação do Cinemark. Espero que gostem. :)

10 - Jules e Jim (Uma Mulher Para Dois) (1962)
Direção: François Truffaut


Uma amarga reflexão sobre o amor num dos mais belos exemplos da Nouvelle Vague. O alemão Jules (Oskar Werner) e o francês Jim (Henri Serre), melhores amigos, se apaixonam pela mesma mulher, a estranha Catherine (Jeanne Moreau). Contado no estilo característico da época, espontâneo, despojado, e seu ritmo vertiginoso faz com que seus 105 minutos de duração passem voando.



9 - As Vinhas da Ira (1940)
Direção: John Ford

À época da recessão nos EUA, a família Joad junta seus pertences e sai em uma caminhonete caindo aos pedaços em busca de trabalho e sobrevivência, cruzando o país em direção ao oeste. Uma análise da miséria humana como poucas. Protagonizado por Henry Fonda e baseado no livro vencedor do prêmio Nobel de John Steinbeck.



8 - Se Meu Apartamento Falasse (1960)
Direção: Billy Wilder


Um baixo funcionário de uma empresa (Jack Lemmon) cede seu apartamento para que seus patrões tenham encontros amorosos, e tudo vai bem até que ele se apaixona pela amante de seu chefe (Shirley MacLaine). Um exemplo genial do que as comédias românticas podem ser quando caem em mãos talentosas. Vencedor de 5 Oscar.



7 - Morangos Silvestres (1957)
Direção: Ingmar Bergman

Um professor de medicina de uma universidade sueca (Victor Sjöström) dirige até outra cidade para receber um prêmio honorário por seus 50 anos de carreira. No caminho, relembra momentos de sua vida e reflete sobre a morte que se aproxima. É, talvez, o melhor filme sobre a velhice já produzido.



6 - Psicose (1960)
Direção: Alfred Hitchcock


O chuveiro. As facadas. A trilha sonora. Quem não conhece essa cena, parte de nosso "folclore universal"? Porém, poucos realmente assistiram o exemplar máximo do mestre do suspense, e viram um dos maiores vilões da história de Hollywood em ação (o Norman Bates de Anthony Perkins rivaliza com o Dr. Hannibal Lecter e outros sádicos mais legais que a maioria dos mocinhos).



5 - Sindicato de Ladrões (1954)
Direção: Elia Kazan


Protagonizado por Marlon Brando - motivo suficiente pra assistir até um comercial do Glade Toque de Frescor. Um ex-boxeador atrai, sem saber, um trabalhador de um cais dominado por gângsters para morte, e acaba se apaixonando pela irmã do morto. Uma parábola sobre arrependimento e oportunidades perdidas impossível de não se identificar. Vencedor de 8 Oscar.



4 - Casablanca (1942)
Direção: Michael Curtiz


Rick Blaine (Humphrey Bogart) é dono de um bar na cidade de Casablanca, no Marrocos, utilizada por refugiados de guerra como moradia temporária para conseguirem um visto de entrada na América. É com esse interesse que chega na cidade o casal Ilsa Lund (Ingrid Bergman) e Victor Lazlo (Paul Henreid), sendo que Rick e Ilsa têm um caso amoroso no passado. A definição básica de "Clássico". Vencedor de 3 Oscar.



3 - 12 Homens e uma Sentença (1957)
Direção: Sidney Lumet


12 jurados se trancam numa sala para decidir o veredicto de um caso de assassinato. 11 deles tem convicção na culpa do réu. Somente um (Henry Fonda) crê na inocência. E cabe a ele convencer a todos os outros de seu ponto de vista. Passado praticamente todo dentro de uma unica sala, é o primeiro trabalho do genial Sidney Lumet.



2 - Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba (1964)
Direção: Stanley Kubrick


Mordaz comédia de humor negro sobre a Guerra Fria, com Peter Sellers interpretando 3 papéis diferentes. Um general americano enlouquece e ordena um ataque nuclear à URSS, que, se bem sucedido, disparará a "Máquina do Juízo Final". O presidente dos estados Unidos e seus generais se reúnem na "Sala de Guerra" para tentar resolver o ocorrido. E então começamos a acompanhar uma DR por telefone entre dois presidentes (um deles bêbado), os planos para salvar os "preciosos fluidos corporais da América", um doutor com um braço mecânico que faz o cumprimento nazista involuntariamente e outros absurdos, no único trabalho de Kubrick que te fará gargalhar incontrolavelmente.



1 - Cidadão Kane (1941)
Direção: Orson Welles

Charles Foster Kane (Orson Welles também), o homem mais poderoso da América, morre em sua mansão pronunciando uma última palavra: "Rosebud". Tentando descobrir do que ela se trata, uma equipe de jornalistas começa a escavar o passado desse homem - e aí começa o que para muitos é a obra máxima do cinema. Um genial estudo de personagem, uma sucessão de belas imagens, atuações impecáveis e um desfecho que te deixará refletindo sobre seu significado durante horas, capaz de gerar discussões tão profundas quanto a Traição de Capitu em Dom Casmurro. Uma obra-prima do primeiro ao último plano. Assustadoramente, foi escrito, dirigido, produzido e estrelado por Welles quando este tinha apenas 26 anos de idade.




... e mais infinitas obras-primas produzidas antes das cores.

Clicando nos links, vocês serão direcionados para o perfil dos filmes no site do IMDb (Intrenet Movie Database), o maior fórum de cinema da internet, com informações completas sobre eles. O site em um Top #250 Movies of All Time, baseado nos votos dos leitores e, enquanto fazia a postagem, percebi que, dentre os filmes que eu citei, o único não presente na lista é Jules e Jim. Ufa, pelo jeito fiz uma seleção ao menos digna.

:D

O Tempo não pára

Posted: sexta-feira, 16 de julho de 2010 by Thulio23 in Marcadores: , , ,
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O que uma pessoa comum faria em uma fila quilométrica de banco, na qual você sabe que vai demorar pelo menos uns 50 minutos para você finalmente ser atendido? Normalmente ela jogaria um daqueles joguinhos ridiculos de celular, ou falaria no telefone, incomodando todo mundo a sua volta, ou simplesmente colocaria um fone de ouvido e começaria a curtir uma música, mas comigo foi diferente outro dia.

Comecei a observar bem a fila preferencial do banco e reparei que, cada vez mais, as pessoas chegam mais longe na idade, e isso me incomodou de uma maneira que eu não imaginava que aconteceria.

Será que eles chegaram nessa idade de uma maneira agradável? Será que eles aproveitaram seus 80 e todos anos de vida? Será que eles viveram a vida justamente para a longevidade?

Eu não sei o que teria acontecido na vida de todos aqueles senhores e senhoras ali, mas eu sei o que eu vou querer para a minha, e o que eu gostaria que todos pessassem igual.

Concordo que devemos dosar os nossos excessos, manter uma vida, de certa maneira, saudável, para conquistarmos uma velhice plena e longa, mas até que ponto deveremos viver sobre essa ditadura auto-imposta?

Tenho como exemplos meus dois avós paternos. Minha avó nunca fumou um cigarro, bebe e bebia muito raramente, e drogas então, nem falar sobre isso ela fala. Já meu avô, ia tomar a pinguinha dele no buteco da esquina todo dia, não largava o seu maço de cigarro, e sobre drogas ilícitas e sexo abusivo, bom, ele nunca me falou desse assunto, mas tenho quase certeza que ele tinha uma certa atração por essas coisas. Enfim, dois opostos, totalmente diferentes, que envelheceram, mudaram seus costumes e estão vivos ate hoje, os dois entre 60 e 70 anos.

Minha avó hoje tem depressão, sídrome do pânico, entre outros problemas psicológicos que mudaram completamente sua personalidade e fez dela praticamente uma hipocondríaca. Vive sozinha, se distanciou das suas amigas, e hoje em dia os únicos amigos que ela tem são a tia dela e o seu amigo/caso/seiláoque. Mas tem poucos problemas físicos, apesar dela não acreditar.

Já o meu avô quase morreu algumas vezes. Tem problemas no coração, diabéte, problema na bacia (quase não anda direito), foi obrigado a parar de fumar, de beber e de fazer tudo o que adorava antigamente. Mas mesmo assim, ele se casou de novo com uma mulher muito legal, vive viajando com ela, arruma tudo o que tem de problema em casa, e praticamente não precisa tomar nenhum remédio. Ele até hoje conta histórias da sua época, e vive sempre com um sorriso no rosto apesar de tudo.

Com certeza a minha avó vai viver muito mais, mas a que custo?

Depois de pensar muito a respeito eu cheguei a conclusão de que, não adianta viver para a longevidade, nós devemos apenas viver, aproveitando ao máximo. Não se sabe se quando sair na rua você será atropelado, e seus planos de viver para sempre acabarão. Isso parece cliché, ou alguma frase saída do filme "Sociedade dos poetas mortos", mas não deixa de ser verdade.

Mas quando digo "aproveite a vida" quero dizer aproveite mesmo, faça tudo o que der vontade (mesmo). Saia, viaje, beba, fume, divirta-se, seja o que sempre quis ser, por que não sabemos o dia de amanhã. Prefiro ter uma vida mais curta e bem aproveitada, do que uma vida longa mas cheia de monotonia e arrependimentos.

Quem sabe um dia, você terá seus 60 anos, aí vai virar para o seu neto e falar "preciso contar pra você o que eu fazia na minha época..."

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