All the things that I've done

Posted: segunda-feira, 6 de setembro de 2010 by Thulio23 in
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Sexta-feira, eu acordo, levanto e olho pro lado e penso: "como a minha mulher é linda". Vou até a varanda e consigo ver o nascer do sol, acordei cedo demais para um feriado, acho que sei o que vou fazer, pelos velhos tempos.
Chego no barzinho que tem na sala, pego um copo com bastante gelo, sirvo meu melhor Whyski, acendo um cigarro, sento na minha poltrona e paro. Não paro apenas superficialmente, paro no tempo, e volto até 20 anos.
O melhor ano da minha vida, aquele em que não haviam responsabilidades o suficiente para se considerar adulto, mas não havia uma despreocupação tão grande para ser uma criança. As minhas preocupações? Vestibular, viagem de formatura, a grana pro rolê, quantas meninas eu iria ficar, se ia rolar sexo, se o meu pau ia subi mesmo muito louco de bebida e de outras coisas, se eu iria sair do colégio, coisas de adolescente.
Lembro daquela sala, que mais parecia com uma família, uma família que tinha os responsáveis, aqueles que estudavam para passar em medicina e no ITA, mas não deixavam de zuar; os irresponsáveis, que curtiam cada segundo sem pensar no amanhã, mas apenas no hoje, em viver a vida; os promíscuos, que só pensavam na festa e nas festinhas privês; os pseudo-alcoólatras, que estavam todo dia no bar, e não negavam uma bebida nem da mãe; os alternativos, que curtiam as músicas mais estranhas e os filmes mais desconhecidos; e os boleiros, que você nunca encontrava na sala, mas estavam sempre na quadra. Era uma família grande, e por mais diferenças que poderiam existir, vivia harmonicamente, sem rachaduras permanentes.
Lembro que na sexta-feira, era o dia, era o dia que tinha futebol, que tinha aulas ótimas, tinha sempre balada ou buteco, sempre uma sinuca, sempre uma breja. Sexta era o dia, não perdia uma, e a unica coisa que estragava era uma chuva inesperada. Gente do lado da quadra esperando sua vez com o cigarro na mão, que contradição.
Aliás, a bola era algo importante lá, criava amigáveis rivalidades, times, camisetas, gritos, campeonatos, torcedoras e torcedores, e até um mercado interno. Parecia uma UEFA de pernas-de-pau.
Aqueles dias disperdiçados no campo, apenas sentados falando merda, isso era o espírito da nossa juventude. A aula chata que acabava em rodas do lado de fora, apenas ouvindo música e fumando um cigarro, e até um baseado de vez em quando.
Lembro daquela loira, a de olhos de cigana oblíqua e dissimulada, que me entortava toda vez que me abraçava e sorria. Nunca tive coragem de dizer que ela era a mulher da minha vida, e até hoje é. Convivo com o remorço de nunca ter lhe dito "eu te amo" da maneira certa.
Quando estou quase despertando do meu transe nostalgico, lembro da viagem, aquela que marcou minha vida, da viagem em que eu descobri que a vida não é o planejamento, mas sim um eterno carpe diem. Queria lembrar detalhes da viagem, mas o alcool que ingeri lá e o tempo enfraqueceu a memória. O que me restou foi o momento emocionante que foi a volta, o momento em que viramos um só pela última vez.
Quando percebi, já tinha fumado mais de três cigarros, o Whyski acabou, e minha mulher e filhos acordavam.
A vida mudou, ganhou responsabilidades, e aqueles amigos de 20 anos atras, poucos ficaram. Uns porque foram morar fora, outros porque morreram e outros simplesmente sumiram.
Será que valeu a pena tomar outro caminho? Sou bem sucedido, amo minha mulher e filhos, não deixo de ter meus momentos de felicidade, e trabalho como eu sempre quis, mas ainda me da um aperto no coração quando lembro dessa época.
Talvez a vida tem de mudar, e os costumes também. Com quase 40 anos não posso mais pensar em sair bebado pela rua, tenho outras prioridades.
No fim, não tenho certeza alguma, só de que fiz tudo o que eu poderia ser feito, e não me arrependo das coisas que fiz, apenas das que deixei de fazer.

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