A Estrada

Posted: sábado, 24 de abril de 2010 by Albanietzsche in Marcadores:
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Em maior ou menor intensidade, todos nós refletimos sobre a natureza humana a nosso próprio modo. Quem nunca parou para refletir se o homem é ruim ou se torna ruim, ou em algum momento se deparou com um tema semelhante a “o futuro da humanidade”?

Particularmente, acredito que a essência do indivíduo homem seja naturalmente boa, embora essa bondade se esvaneça quando reunidos em sociedade. Ao colocar sua função social acima de sua vontade particular (por conta de uma imposição quase natural), um indivíduo descarta grande parte das qualidades que nos permite classificá-lo como “um grande homem”, se tornando apenas mais um pedaço do todo podre.

Adoramos acreditar que somos livres, e o exercício de nossa liberdade regulada por certas normas de conduta conduz a sociedade naturalmente, quando na verdade passamos a maior parte de nossa existência trabalhando (exercendo, portanto, nossa função social), e somente a pequena recompensa recebida por esse “não-estragar-tudo” é que é trocada por um mínimo de prazer e entretenimento livre.

Durante esses poucos momentos de prazer, não sei se é feliz ou triste ver sua visão de mundo encenada através de uma manifestação artística; acho que é mais paradoxal ou irônico. Enfim, independentemente da classificação, foi isso o que aconteceu a pouco comigo ao assistir A Estrada, adaptação hollywoodiana do livro homônimo de Cormac McCarthy, vencedor do prêmio Pulitzer de ficção de 2007.



O filme conta a história de sobrevivência de um pai e seu filho em uma Terra pós-apocalíptica na qual a maior parte da vida foi dizimada, e os poucos humanos remanescentes organizaram-se, em sua maioria, em espécies de guerrilhas canibais. O esforço e amor entre os dois, tentando manter ao menos um pouco de sua humanidade enquanto buscam migalhas de alimentos em um mundo destruído, se contrapõe diretamente às atitudes da maioria dos demais personagens encontrados no decorrer da narrativa, que já tocaram a moral humana pelo (nesse caso, impuro) instinto animal.

Conseguindo deixar você com ar de desespero e ao mesmo tempo com um nó na garganta, o filme ainda conta com atuações primorosas de Viggo Mortensen (o Aragorn da trilogia O Senhor dos Anéis) e do garoto Kodi Smit-McPhee (Deixa Ela Entrar), no papel dos protagonistas (que, por nunca terem seus nomes revelados, assumem um caráter universal), com papéis menores de Charlize Theron (Monster – Desejo Assassino) e Robert Duvall (O Poderoso Chefão) e com uma parte técnica irretocável, destacando-se a fotografia e a direção de arte, que criam um mundo quase em tom monocromático e completamente desolado.

Assistir A Estrada certamente não é uma experiência agradável, mas a consciência de estar vendo um belo exemplar da 7ª arte e de que nosso mundo, apesar de tudo, ainda é bem mais agradável do que o retratado, faz tudo valer a pena. Recomendadíssimo.

3 comentários:

  1. Discordo que o homem seja naturalmente bom, pois se realmente fizessemos o que quisermos realmente, o mundo estaria mais caótico ainda. Mas aí que eu concordo quanto ao fato da liberdade não existir, enquanto houver sociedade.
    Não sou fã de hollywoodianos, mas sua crítica me deixou na pegada de ver esse. A idéia soa original.
    Ontem vi sonhos do Akira Kurosawa (recomendado por Belmira).

  1. ops, coloquei realmente duas vezes pra enfatizar, como recurso estilístico, cê sabe, neh?

  1. Licença poética, perdoando erros de escrita since sempre. UAEHUEAH... E discutir natureza humana, sociedade e tudo mais me lembra a noite pré-workshop de caipirinha com Belin *-* Saudades...

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